Diante
da possibilidade de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) retirar do mercado brasileiro a sibutramina, um dos inibidores de
apetites mais usados no país, além de outros três remédios para
emagrecimento chamados anorexígenos anfetamínicos (anfepramona,
femproporex e mazindol), médicos se veem sem alternativas para o
tratamento da obesidade com uso de medicamentos. "Não existe nenhum
outro com essas propriedades", afirma Ricardo Meirelles, presidente da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
Estudo
da Anvisa concluiu que os medicamentos têm eficácia desproporcional em
relação aos problemas que podem causar, como dependência, arritmias
cardíacas e aumento da pressão arterial e pulmonar. Uma audiência
pública do órgão, na próxima quarta-feira, o cancelamento do
registro desses inibidores. O único remédio que fica à disposição dos
pacientes é, segundo os especialistas, o orlistate, que dificulta a
absorção de gordura pelo organismo, reduzindo o valor calórico do que é
ingerido. O uso dele, no entanto, pode causar problemas aos pacientes
se não for usado em conjunto com os inibidores. "Se a pessoa comer mais
do que o normal, o intestino passa a funcionar de maneira excessiva e
provoca uma diarreia intensa. O inibidor ajuda a educar o paciente para
que ele não coma muito", explica Ricardo Meirelles.
Controle
O
médico Márcio Bontempo, da Associação Brasileira de Nutrologia (Aban),
costuma receitar a seus pacientes remédios fitoterápicos - produzidos
com produtos naturais -, mas também acredita que a proibição dos
inibidores convencionais pode ser um prejuízo. Segundo o nutrólogo, a
suspensão tende a criar aumento de doenças relacionadas à obesidade,
como a diabetes tipo 2 e problemas de coluna, além de aumentar a
procura pela cirurgia bariátrica - de redução de estômago -, "que tem
mortalidade de 2%", diz. Para ele, o ideal seria tornar ainda mais
rigososa a fiscalização da venda. "Se conseguíssemos ter um controle
médico maior, seria interessante manter pelo menos a anfepramona",
acredita. O Brasil não tem remédios com o mesmo princípio ativo dos que
serão questionados na audiência da próxima semana, segundo Maria
Eugênia Cury, chefe do Núcleo de Investigação em Vigilância Sanitária
da Anvisa. No entanto, o estudo do órgão descarta a possibilidade de se
abrir exceções: "Em nenhum deles se encontrou mais benefícios do que o
outro, a ponto de poder ser liberado", diz.
Os fitoterápicos até
são uma opção para o tratamento da obesidade, como defende o nutrólogo
Márcio Bontempo. No entanto, ele mesmo ressalta, será preciso ter mais
paciência para perder peso, já que os efeitos não são imediatos como os
dos anorexígenos anfetamínicos. Mas os resultados tendem a ser mais
duradouros depois que a medicação é suspensa. "O processo é feito em um
prazo maior. Eles não são excitantes do nervoso central e não criam
dependência. Anfetamínicos podem criar", explica.
O consenso
entre os profissionais de saúde está no uso associado desses inibidores
de apetite com a reeducação alimentar e a prática de atividades
físicas. "A gente usa como auxiliar para modificar os hábitos, e não
como uma solução em si", defende Ricardo Meirelles. Ele afirma que o
problema está no desejo de soluções urgentes, que provocam o uso de
maneira inadequada.
A falta da combinação recomendada pelos
médicos faz com que a empresária Camila dos Santos Quilici tenha de
conviver com o temido efeito sanfona. Aos 22 anos, ela já recorreu à
sibutramina pelo menos três vezes para emagrecer, sempre com o
acompanhamento de endocrinologista. "Cheguei a perder entre 6kg e 7kg
em um mês, mas engordei tudo de novo", lamenta. Hoje, além de ter
recuperado o peso, aumentou mais 5kg, e deseja recorrer a métodos ainda
mais agressivos. "Queria fazer redução de estômago, mas os exames não
apontam a taxa de IMC (índice de massa corpórea) necessária."
Fonte: Correio Braziliense Online
Por: Ana Elisa Santana e Débora Álvares
Comentários
Postar um comentário